Meu mar interno

03/09/2020

Dia desses acordei com um barulho de água no meu peito, como se a água se mexesse forte, algo que mais pareciam ondas batendo contra um rochedo. Levei um susto, eu estava muito inchada do pós-operatório e com dois drenos que pendiam de mim, pensei logo na tal da hemorragia interna que deixaram em alerta os enfermeiros no hospital.

Mas aquele barulho não era constante, ora mais forte ora mais fraco, ele me acordava às vezes do meu sono, me deixando na dúvida se era real. Resolvi então conversar com o meu médico, era isso normal?

Ele me contou que ao colocar o expansor no meu seio, colocou também 100 ml de soro, num procedimento inicial de expansão da pele. A água que ouvia era o líquido se mexendo dentro de mim.

Diante dessa novidade batizei o barulho e o movimento que eu ouvia de "meu mar interno", e adorei saber que as ondas desse mar me remexiam internamente. Às vezes bem calmo, enquanto em outros momentos agitado, provavelmente seguindo o ritmo das emoções que o meu corpo sente e que eu não necessariamente expresso em palavras.

Contei sobre o meu mar para algumas pessoas e uma amiga querida me surpreendeu com o cuidado da escuta ativa, a beleza de seus sentimentos e me presenteou com a artista espetacular que ela é. Uma poetiza, que transformou a minha descrição e sentimentos em poesia, numa suavidade que nem eu seria capaz de traduzir de igual maneira.

Nesse momento abro mão da minha fala e dou protagonismo a ela, que cuidadosamente criou algo lindo. No vídeo que eu compartilho, ela de uma forma sensível fala do meu mar interno, que segundo ela não é um mar no masculino, mas um mar feminino: a mar.

Aqui do meu lado, reflito sobre essas ondas e a imensidão desse mar, metaforicamente trazidas pelo expansor, que atingem simbolicamente todos os outros sentimentos decorrentes dessa luta que atualmente enfrento. Que essas ondas poderosas me ajudem a recompor a minha pele, me fortaleçam emocionalmente e permitam futuras reconstruções.

Vídeo e poesia Mariana Galvão

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