Exercitar o corpo é ventilar a alma para novas aventuras

Muitas sensações me levam a experimentar novamente a vida, que volta a fluir energeticamente pelo meu corpo. São pequenos momentos ou realizações, que antes banais, ganham um significado diferente.

Foram 10 meses em que basicamente tudo aconteceu! Um encontro com a finitude, duas cirurgias, sessões de quimioterapia e a hormonioterapia. Em outras palavras, um mergulho profundo nas fragilidades do corpo e da alma.

Cada etapa foi uma reconciliação e conexão com o meu corpo, em que novas repactuações foram feitas sobre os limites e as potencialidades, após tantas mexidas invasivas. Pequenas vitórias, em geral visíveis apenas para quem está cotidianamente acompanhando a recuperação, porém repletas de significado.

Nesse cenário de vida, exercitar o corpo ganha contornos extraordinários. Algo que quando estamos saudáveis, não percebemos a extensão de sua preciosidade. Cada movimento passa a ser uma celebração e um braço alongado alarga o sorriso da conquista e se torna um combustível para a alma.

Após a minha primeira cirurgia, caminhar na praia passou a ser sinônimo de poder. Foram duros e difíceis os momentos anteriores, mas quando me senti minimamente apta, coloquei o meu corpo em movimento. Com a ajuda de uma amiga, tornei esses momentos divertidos e repletos de trocas.

Eles me preparam para a quimioterapia, que, mais uma vez me impôs limites e me impossibilitou por quatro meses de realizar qualquer movimento mais significativo. Foi um momento complicado, em que as minhas forças pareceram se extinguir e os pequenos movimentos geravam uma exaustão que eu nunca havia sentido antes. Cheguei a duvidar que eu subiria uma escada de novo sem ficar ofegante.

Novamente uma mão se estendeu para mim. Com a ajuda de um profissional, recuperei paulatinamente a minha capacidade física e ao longo de cerca de dois meses, readaptei meu corpo às energias da vida. Foram conquistas obtidas passo-a-passo, a cada aula, em que cada movimento representava um avanço a mais na minha recuperação física e mental. Exercitar o corpo é ventilar a alma para novas aventuras. Um novo sentimento dentro de mim se expandiu, eu era capaz de transformar aquela situação que se apresentava.

Esse processo foi essencial para me preparar para algo novo que se descortinava. Minha segunda cirurgia foi um marco! Novamente me criou uma limitação física, mas também me encheu da sensação de infinitude. É como se a reconstrução dos meus seios me liberasse de um ciclo difícil, para me permitir novamente sonhar, fazer planos e expandir as potencialidades do meu corpo.

Por isso, após tudo isso, quando eu entrei na piscina essa semana e nadei, algo libertador se expandiu dentro de mim. Foi como se cada célula do meu corpo voltasse a aproveitar freneticamente a energia que fluía internamente, me mostrando que a vida estava correndo livremente pelas minhas veias: a vida pulsa!

Cada braçada longamente explorada era seguida de um sorriso revelado por meio de uma água acolhedora, em que pensamentos de vitória se expandiam dentro de mim. Terminei eufórica as minhas aulas, pois não senti dor e nem me esgotei fisicamente. Era o meu corpo me dizendo que ele está em completa conexão com a minha alma e que juntos estamos nos libertando de um passado difícil para seguir com um futuro misteriosamente incrível, repleto de conquistas.